domingo, 9 de junho de 2019




4º SESSÃO


O AMALDIÇOADO DRUIDA BELIAL

 Pouco a pouco Elkantar torna-se cadavérico e sua pele pálida, Davy percebe então que o seu olhar não apresenta mais nenhum sinal de humanidade. Outrora um fiel aliado do lendário herói Haelirin, contador de muitas histórias, Elkantar havia se tornado um Ghast, uma criatura morto-vivo, semelhante a um ghoul, só que mais forte e mais inteligente. Exalava um fedor de morte e podridão, capaz de gerar náuseas no bardo, fazendo com que o mesmo não fosse capaz de se esquivar a tempo de uma garrada, que o fere profundamente.
 Escutando o ocorrido, rapidamente Mahjur olha para criatura e logo suspeita que se trata de um profano morto-vivo. Akael sem titubear, prepara seu arco, enquanto seu coração é tomado de um profundo ódio, ele tem a convicção de estar na presença de um morto-vivo, a criatura que ele mais odeia.
 Sabendo que não há mais chance de salvar Elkantar, Akael dispara uma de suas flechas contra a criatura, mas a erra. Mahjur bate seu bastão contra o chão e inúmeros esporos percorrem seu corpo, criando uma espécie de carapaça e aumentando seu vigor físico, seu bastão então é tomado por uma energia mágica de tom esverdeado e ele corre em direção ao morto-vivo, seguido depois por Gauthak, que demora a perceber a presença do Ghast.
 Davy prepara um truque mágico para tentar desconcentrar o morto-vivo e isso parece funcionar, pois o ataque da criatura o erra. Chega Mahjur e Gauthak para oferecer proteção ao bardo ferido. Um sangrento combate se inicia, depois de muitos golpes de bastão e machado, finalmente uma poderosa flecha é lançada pelo ranger contra o já gravemente ferido Ghast, eliminando-o de vez. A magia negra que havia transformado Elkantar em um morto-vivo, abandona seu corpo, deixando apenas uma ossada em um terreno agora profanado. Uma rápida prece é feita pelo bardo, tomado por um sentimento de tristeza, que se afasta do local.
 Davy e Mahjur decidem correr para o interior da cabana em chamas para tentar salvar algo que o drow possa guardar como recordação de seu avô de criação. Após se esquivarem de ripas flamejantes que se desprendiam do teto, os dois chegam ao quarto de Elkantar. Davy logo vê uma concha em forma de ocarina sobre o criado mudo que possuía um discreto brilho, estranhamente ela não havia sido danificada pelo fogo que envolvia o móvel de madeira zurkhwood. Rapidamente ele tenta abrir as gavetas, mas o calor queima a ponta de seus dedos, tirando sua atenção, mas não a de Mahjur que mais distante, nota algo no interior de uma das gavetas. O druida se aproxima e abre a gaveta novamente e então tira um traje de trovador feito de um nobre e luxuoso tecido, possivelmente o traje bárdico de Elkantar. Sem achar mais nada relevante nos outros cômodos, a não ser um pouco de ração, ambos deixam a cabana, antes que ela desabe.
 Novamente reunido, o grupo muito cansado e ferido dos combates anteriores, decidem acampar por ali mesmo e aproveitar o calor da cabana em chamas, para aquecer seus corpos gelados. Davy toca então uma agradável canção aprendida quando criança por seu "avô", logo uma sensação de confiança e coragem toca a alma de nossos aventureiros, que passam ali, a melhor noite de descanso desde que adentraram em Underdark.
 No dia seguinte, eles levantam acampamento e agora perdidos, escolhem seguir o caminho que acompanha o rio, acreditando que isso os levará em direção a uma nascente que fique fora do subterrâneo. Depois de caminhar por cerca de uma hora, eles escutam gritos desesperados: "Me deixem em paz! Eu não quero morrer!".
 Após poucos segundos, um pranto angustiante e sequencialmente, risadas vis e animalescas, como de um ulular e a frase: "Sacrifício para Yeenoghu! A besta da carnificina!"
 Akael temendo o pior, sem titubear, dispara na direção dos gritos e quando se aproxima, vê 3 Gnolls, um deles escalando uma parede ingrime de pedras, agarrando a perna de uma desesperada anã de cabelos ruivos, muito bem cuidados. Percebendo a presença do elfo os outros dois Gnolls investem contra Akael, um deles ataca-o com uma mordida.
 O restante do grupo então chega e um novo combate se inicia, onde os aventureiros vencem sem maiores dificuldades. Mahjur se aproxima e conversa com a anã, dizendo que ela está salva e conquista sua confiança.
 Ela ainda muito abalada se apresenta como Eldeth Feldrun de Gauntlgrym, diz que foi capturada nas imediações de sua cidade e levada ao subterrâneo, em direção a Gracklstugh, onde foi escravizada por duergars, sendo obrigada a fazer coisas horríveis. Ela diz que conseguiu fugir com um grupo de prisioneiros e que a alguns dias se escondia, tentando se manter viva nesse perigoso lugar. Eldeth propõe aos aventureiros que eles a escoltem, pois ela conhece um caminho que os levará para fora de Underdark, em direção a Gauntlgrym, sua cidade, onde o grupo seria recebido como heróis por sua família.
 A idéia agrada os aventureiros, que partem junto a anã. Eldeth se alimenta vorazmente de um dos frutos mágicos oferecidos por Mahjur, tendo sua imensa fome saciada. Eldeth leva o grupo em direção a uma passagem, que adentra em uma caverna, que mais parece o lar de alguma criatura. Ela relata que esse era seu esconderijo e que não havia mais nenhum monstro no local, mas que era necessário passar por ali até que se atingisse a saída do outro lado. O grupo segue grande parte do caminho labiríntico sem nenhum problema, visto que Eldeth realmente conhecia bem o lugar, não aparentando em nenhum momento se perder.
 Quando eles chegam em uma estreita passagem pela parede de pedras, Eldeth passa por ela e pede que os aventureiros a sigam, pois eles estão se aproximando da saída. Conforme eles avançam no corredor, um densa e baixa névoa começa a se tornar presente, eles então terminam o estreito corredor e adentram em um espaço largo, que mais parece um grande salão com uma névoa ainda mais densa, onde escutam uma voz que pronuncia algo indecifrável, uma voz aparentemente felina. Mahjur nota que não é idioma silvestre, nem druídico e avisa o grupo para ter cuidado. De repente um urro alto e sofrível se escuta de mais adiante, esse urrar sim, bem característico de um animal, todos notam, menos Akael, para ele não foi o urrar de um animal apenas, ele entende o som como um pedido de ajuda, é Belial, a fera companheira de sua amada Elith.
 Outra vez, o impetuoso ranger, corre na frente de seus companheiros no anseio de ajudar Belial, no que quer que esteja havendo ali. Quando ele chega no centro do salão, onde a névoa é mais dispersa, ele vê a pantera acorrentada nas quatro patas, em cima de um símbolo entalhado no solo, que parece ser uma runa, logo a frente está uma criatura humanóide de aparência horrenda. Ela realiza gestos como em um ritual e entre Belial e a criatura existe um cristal que aparenta sugar uma energia avermelhada do interior da pantera, uma energia vital o elfo imagina, pois a pantera vai ficando cada vez mais fraca.
 O ranger sem pensar, rapidamente jura a criatura de morte, marcando-a como sua presa e dispara uma flecha no cristal, que explode, libertando uma luz vermelha, que retorna parte na direção de Belial e a outra em Grindy, a bruxa.
 Com a explosão do cristal, Eldeth coloca as mãos sobre rosto, aparentando desolação, ela balança a cabeça e sussura sem parar: "não, não, não".
 Belial, a pantera gigante, após ter parte de sua energia recuperada, da um urro ainda mais forte, que ecoa por todo salão e estoura as correntes que a prendiam, ficando com os grilhões presos em suas patas. Enfurecida investe contra Grindy, mordendo-a, Davy pega sua ocarina e toca um canção melancólica que aparenta afetar a bruxa, enfraquecendo-a, Gauthak em um surto de ação golpeia a criatura múltiplas vezes, enquanto Mahjur invoca os poderes da natureza para criar um raio lunar que envolve Grindy em chamas fantasmagóricas que causam uma dor lancinante.
 A bruxa ainda capaz de lutar, desfere fortes golpes contra Mahjur e Gauthak, que vigorosos como são, suportam os ferimentos causados sem debilitarem-se. Então Akael nota no dedo de Grindy um anel idêntico ao de Elith, um anel de madeira entalhado com desenho de vários animais no seu contorno. Em seu raciocínio, isso justificava a presença de Belial naquele local, a fera provavelmente havia encontrado o rastro da druida, que havia sido capturada e seguiu-o até o lar da bruxa. O ranger indaga a criatura, perguntando o que ela havia feito com Elith. Grindy então temendo a morte que se aproximava, pensa em responder tudo que sabe, a fim de possivelmente ser perdoada por seu erro e ter a vida poupada. Quando começa a responder, talvez erroneamente, inicia por dizer que Elith já não estava mais com ela, algo havia ocorrido. Apenas esse relato já é o suficiente para inflamar de raiva o coração do impetuoso Akael, que dispara uma flecha certeira no peito da bruxa, fazendo-a se sentir acuada. Grindy então interrompe sua fala para se concentrar apenas na sua defesa, porém antes que ela pudesse realizar seu feitiço de invisibilidade, um novo raio lunar é criado por Mahjur, esse tão forte, que desintegra o corpo da bruxa, fazendo cair ao chão apenas suas vestes e o anel. Akael se aproxima e pega o anel, analisando em suas mãos ele tem certeza que é o anel de Elith.
 Davy se aproxima dos fragmentos do cristal para analisá-lo. Enquanto observa-os, graças a sua percepção élfica apurada, escuta um barulho suave, vindo de trás de um pilar próximo as suas costas. Quando olha para trás, vê Eldeth Feldrun, a anã que está com um semblante enfurecido e uma de suas mãos aparentam agora dedos longos e unhas ponteagudas. Ela grita a todos no salão, com uma voz agora forte, imponente e cheia de ódio: "Vocês quebraram o cristal, era para ele ser meuuuu!" e golpeia Davy, que pela frágil constituição élfica, fica mais uma vez gravemente ferido. Mahjur então que não havia se desconcentrado ainda de sua invocação mágica, desloca o raio lunar na direção de Eldeth e então todos se assustam ao ver a anã dentro do raio de luz, tomar uma nova forma. Surge uma criatura mais alta e esguia, de pele azulada, garras longas e um semblante alienígena. Gauthak e Akael se engajam em combate novamente, ferindo gravemente a criatura, que antes de morrer lê os pensamentos de Akael e em tom de deboche, diz que ele havia perdido a grande oportunidade de encontrar Elith, devido a sua impetuosidade. Sendo morto em seguida pelos aventureiros.
 A criatura desconhecida de todos, menos do bardo, que já havia escutado histórias sobre um ser estranho chamado Doppelganger, que era capaz de assumir a forma idêntica de suas vítimas e também de ler mentes, capacidade que lhes permitiam atuar de maneira conspiratória e enganativa para conquistar seus objetivos. Mahjur logo percebe que o grupo havia sido enganado o tempo todo e que a criatura apenas estava usando-os para enfrentar a bruxa, torcendo para que ambos se matassem em combate e o cristal mágico, pudesse ser roubado sem risco algum.
 Com esse fim a chance de escapar do Underdark sobre o guiar de Eldeth Feldrun, a anã de Gauntlgrym, se esvai e mais uma vez o grupo de heróis se vêem perdidos e sem esperanças. Só que agora Akael dispõe de mais um companheiro, Belial a pantera, a fera companheira de Elith, está ao seu lado e o ajudará a encontrar sua amada.
 Quando Akael coloca o anel em seu dedo, estranhamente ele emite uma luz mágica, nunca visto antes pelo ranger. Os demais aventureiros então notam que a pantera olha para Akael e começa a urrar, como se estivesse conversando com ele. Akael por sua vez passa a ser capaz estranhamente de entender comumente tudo que o animal diz. Akael percebe que o anel havia lhe conferido o poder de  compreender e se comunicar com animais.
 Belial então diz ao ranger tudo que Elith nunca soube, que na realidade ele não é simplesmente uma pantera, mas sim seu irmão, um druida que foi amaldiçoado e preso em sua forma animal por um arquedruida muito poderoso. Belial revela a Akael que foi enfeitiçado por um mago negro, um estudioso da demonologia de nome Gromph e forçado a revelar a localização do jardim secreto da Árvore Sagrada do Conhecimento, uma árvore colossal capaz de frutificar uma única vez a cada mil anos, diz as antigas lendas élficas que seu fruto abençoado oferece saber ilimitado sobre aquilo que quem a experimenta, mais anseia.
 A ordem druídica após descobrir que o mago havia roubado o fruto, soube do que ocorrera entre Belial e Gromph e das intenções demoníacas do mago negro, decidindo punir Belial, para que o mesmo nunca mais fosse capaz de se comunicar com qualquer humanóide e aprisionou-o em sua forma animal pelo resto de sua vida.

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